APHES: alguns passos na direção certa

A Associação Portuguesa de História Económica e Social (APHES) é especial para mim. Penso que fui a todos os congressos entre 2012 e 2022. No congresso de 2012, o primeiro a que fui, ganhei o prémio da “melhor comunicação apresentada por jovens investigadores no Encontro anual da Associação.” Aprendi bastante com inúmeras comunicações que ouvi nos congressos da APHES ao longo dos anos, e lá conheci muitos amigos e até co-autores.

Na Assembleia Geral do último congresso da APHES de há uns meses atrás, eu critiquei a forma arcaica e contrária à internacionalização e ao interesse dos seus membros como a associação estava a funcionar. Fiz isso em pessoa, na Assembleia Geral, e também resumi alguns dos pontos que disse aqui. Disse também que por tudo isso, ia refletir se voltaria a ir a mais encontros da APHES.

Lembro que em Itália, historiadores económicos de primeira linha como Giovanni Federico e Michelangelo Vasta, entre outros, tiveram de criar uma organização paralela à associação de história económica existente há décadas, por terem concluído que esta última não era reformável. Nunca tive a intenção de fazer isso em Portugal; espero que a APHES se reforme, mas se isso não acontecer, paciência – mas nesse caso, não contem comigo.

Tenho dúvidas sobre se a APHES é reformável, mas tenho esperança que sim. Fiquei muito contente de ver o call for papers que saiu recentemente. Muitas das críticas que fiz na Assembleia Geral foram tomadas em consideração. Nomeadamente, ao contrário do que aconteceu o ano passado, há finalmente:

  • Um bom site, e em inglês;
  • Keynote speaker de qualidade e anunciado com antecedência
  • O call for papers disseminado aos canais internacionais
  • O prémio Pedro Lains anunciado

Lembro que o prémio da APHES para jovens investigadores, que na assembleia-geral de 2021 foi aprovado, por proposta minha, ter o nome do Pedro Lains (que apoiava bastante os jovens e tinha falecido pouco tempo antes). Mas não foi dado em 2022, porque a direção anterior não se deu ao trabalho de tratar disso. Isto revelou uma enorme perguiça – e sinceramente, egoísmo – da direção que estava em vigor em relação aos mais jovens. Fico contente de ver que isso está a ser revertido.

A data também se manteve no verão, cumprindo o que defendi na Assembleia Geral (onde a minha proposta ganhou por poucos votos, mas ganhou). Continua a existir um tema para o congresso, o que é uma tolice que na prática afasta pessoas que não estejam a trabalhar nesse tema arbitrário, mas enfim, é uma questão mais secundária do que as outras.

O que descrevi em cima foi sem dúvida progresso, que não está certamente alheio do afastamento da anterior presidente, que era incompetente (já porque é que a FCT escolhe uma incompetente para fazer parte da direção deveria espantar-nos… ou não). Alguns dos membros da atual direção vieram da direação anterior, e quero ser claro que não estou a criticar todos. Tenho boa impresão da maior parte da atual direção. Reitero que o que se passou agora foi progresso na direção certa, e reconheço que muitas das críticas que fiz foram ouvidas.

Ficam no entanto alguns conselhos à direção atual da APHES (e também à comissão organizadora do próximo congresso). Lembro que o meu objetivo em sugerir isto é o mesmo de sempre: melhorar o contexto e oportunidades disponíveis para os académicos que trabalham nestes temas em Portugal:

Primeiro, o congresso deve ser anunciado não apenas no Twitter e eh.net (o que já é bom e progresso em relação ao passado) mas também noutras plataformas internacionais, e por “passa palavra” com bons investigadores/as internacionais. Deve ser também enviado outra vez um lembrete pelo eh.net cerca de uma semana antes do prazo, mais uma vez lembrando quem será o keynote (como foi feito da primeira vez). A localização do congresso em Portugal deve ser enfatizada.

Segundo, devem haver listas concorrentes para a próxima direção. Pelo menos, deve ser dada a oportunidade a quem quiser para apresentar uma lista e programa. Clarifico que eu próprio não estou interessado, e que se apenas aparecer uma lista, então tudo bem. Mas deve ser anunciado com tempo e horas a possibilidade de listas concorrentes se apresentarem e terem um programa eleitoral. O que não é aceitável é à última hora ser apresentada uma lista única, sendo a sua eleição um fait accompli.

Terceiro, o programa deve ter pelo menos 50% dos papers / sessões em inglês. Também devem existir menos sessões paralelas, e mais controlo de qualidade. As sessões em inglês devem estar separadas das em português no programa. Também deve haver cuidado para não haver sessões com temas muito próximos à mesma hora, dentro do possível. Tudo isto vai contribuir de forma credível para a internacionalização da associação. Notem que não estou a dizer que penso que se devem proibir apresentações em português.

Quarto, o prazo de candidaturas não deve ter extensões anunciadas mais tarde. Aliás, já devia ter sido agora mesmo anunciado isso mesmo: que não vão existir mais tarde extensões do prazo de envio de candidaturas “a pedido de muitas famílias”. Essas extensões são lamentáveis e dão uma vantagem injusta aos portugueses que já contam com as mesmas, relativamente a candidaturas internacionais para apresentar papers. Anunciar agora mesmo que não vão existir extensões iria ajudar a parar a tentação que vai existir de ceder a pressões nesse sentido, que vão certamente aparecer mais tarde.

Não sei se voltarei a ir a encontros da APHES. Veremos como será o programa deste ano, e qual a direção que será eleita. Nessa altura decido e anunciarei o que decidir, e porquê. Depois, seja qual for a minha decisão, não voltarei mais a este tema. Para já, as notícias são positivas: o anúncio agora feito sobre o próximo congresso foi um passo na direção certa, e por isso mesmo merece os meus parabéns.

p.s. a primeira versão deste post sugeria que o anúnico tinha sido feito no Twitter mas não no eh.net. Depois uma pessoa próxima da direção disse-me que esse anúncio tinha sido feito. Fica aqui a correção.

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